Mensagem de uma aluna da 1903!
ACHEI MUITO BACANA ESTA INICIATIVA DA ALUNA BEATRIZ DA 1903...BJK
Em
consideração a todos os belos professores que tenho na Nelcy Noronha,
lhe envio este recadinho muito bem elaborado por Rubem Alves. Obrigada
dona Karen, por ser uma professora que nos dá asas ao invés de nos
prender em gaiolas! ^_^..
Gaiolas e asas
"Os pensamentos me
chegam de forma inesperada, sob a forma de aforismos. Fico feliz porque
sei que Lichtenberg, William Blake e Nietzsche frequentemente eram
também atacados por eles. Digo “atacados“ porque eles surgem
repentinamente, sem preparo, com a força de um raio. Aforismos são
visões: fazem ver, sem explicar. Pois ontem, de repente, esse aforismo
me atacou: “Há escolas que são gaiolas. Há escolas que são asas“
Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte
do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o
seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm
um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o
vôo.
Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas
amam são os pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para
voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce
dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser
encorajado.
Esse simples aforismo nasceu de um sofrimento: sofri
conversando com professoras de segundo grau, em escolas de periferia. O
que elas contam são relatos de horror e medo. Balbúrdia, gritaria,
desrespeito, ofensas, ameaças... E elas, timidamente, pedindo silêncio,
tentando fazer as coisas que a burocracia determina que sejam feitas,
dar o programa, fazer avaliações... Ouvindo os seus relatos vi uma jaula
cheia de tigres famintos, dentes arreganhados, garras à mostra - e a
domadoras com seus chicotes, fazendo ameaças fracas demais para a força
dos tigres... Sentir alegria ao sair da casa para ir para escola? Ter
prazer em ensinar? Amar os alunos? O seu sonho é livrar-se de tudo
aquilo. Mas não podem. A porta de ferro que fecha os tigres é a mesma
porta que as fecha junto com os tigres.
Nos tempos da minha infância
eu tinha um prazer cruel: pegar passarinhos. Fazia minhas próprias
arapucas, punha fubá dentro e ficava escondido, esperando... O pobre
passarinho vinha, atraído pelo fubá. Ia comendo, entrava na arapuca,
pisava no poleiro – e era uma vez um passarinho voante. Cuidadosamente
eu enfiava a mão na arapuca, pegava o passarinho e o colocava dentro de
uma gaiola. O pássaro se lançava furiosamente contra os arames, batia as
asas, crispava as garras, enfiava o bico entre nos vãos, na inútil
tentativa de ganhar de novo o espaço, ficava ensanguetado... Sempre me
lembro com tristeza da minha crueldade infantil.
Violento, o pássaro
que luta contra os arames da gaiola? Ou violenta será a imóvel gaiola
que o prende? Violentos, os adolescentes de periferia? Ou serão as
escolas que são violentas? As escolas serão gaiolas?
Me falarão
sobre a necessidade das escolas dizendo que os adolescentes de periferia
precisam ser educados para melhorarem de vida. De acordo. É preciso que
os adolescentes, é preciso que todos tenham uma boa educação. Uma boa
educação abre os caminhos de uma vida melhor.
Mas, eu pergunto: Nossas escolas estão dando uma boa educação? O que é uma boa educação?
O que os burocratas pressupõe sem pensar é que os alunos ganham uma boa
educação se aprendem os conteúdos dos programas oficiais. E para se
testar a qualidade da educação se criam mecanismos, provas, avaliações,
acrescidos dos novos exames elaborados pelo Ministério da Educação.
Mas será mesmo? Será que a aprendizagem dos programas oficiais se
identifica com o ideal de uma boa educação? Você sabe o que é “dígrafo“?
E os usos da partícula “se“? E o nome das enzimas que entram na
digestão? E o sujeito da frase “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
de um povo heróico o brado retumbante“? Qual a utilidade da palavra
“mesóclise“? Pobres professoras, também engaioladas... São obrigadas a
ensinar o que os programas mandam, sabendo que é inútil. Isso é hábito
velho das escolas. Bruno Bettelheim relata sua experiência com as
escolas: “fui forçado (!) a estudar o que os professores haviam decidido
que eu deveria aprender – e aprender à sua maneira...“
O sujeito da
educação é o corpo porque é nele que está a vida. É o corpo que quer
aprender para poder viver. É ele que dá as ordens. A inteligência é um
instrumento do corpo cuja função é ajudá-lo a viver. Nietzsche dizia que
ela, a inteligência, era “ferramenta“ e “brinquedo“ do corpo. Nisso se
resume o programa educacional do corpo: aprender “ferramentas“, aprender
“brinquedos“. “Ferramentas“ são conhecimentos que nos permitem resolver
os problemas vitais do dia a dia. “Brinquedos“ são todas aquelas coisas
que, não tendo nenhuma utilidade como ferramentas, dão prazer e alegria
à alma. No momento em que escrevo estou ouvindo o coral da 9ª sinfonia.
Não é ferramenta. Não serve para nada. Mas enche a minha alma de
felicidade. Nessas duas palavras, ferramentas e brinquedos, está o
resumo educação.
Ferramentas e brinquedos não são gaiolas. São asas.
Ferramentas me permitem voar pelos caminhos do mundo. Brinquedos me
permitem voar pelos caminhos da alma. Quem está aprendendo ferramentas e
brinquedos está aprendendo liberdade, não fica violento. Fica alegre,
vendo as asas crescer... Assim todo professor, ao ensinar, teria que
perguntar: “Isso que vou ensinar, é ferramenta? É brinquedo?“ Se não for
é melhor deixar de lado.
As estatísticas oficiais anunciam o
aumento das escolas e o aumento dos alunos matriculados. Esses dados não
me dizem nada. Não me dizem se são gaiolas ou asas. Mas eu sei que há
professores que amam o vôo dos seus alunos. Há esperança..."
(Folha de S. Paulo, Tendências e debates, 05/12/2001.)
Claudia Cristina Mayrinck Achei lindo e verdadeiro, Karen Patrícia Corrêa!
Lembrei do que está escrito na blusa do uniforme do Gustavo: " Educar
não é cortar as asas, mas orientar o voo. Bjs e boas férias!
Carla Maria Conheço
este texto de Rubens Alves e muitas muitas vezes vezes quando leio
serve de reflexão para meus momentos em sala de aula. Nesta leitura,
agora, parei para refletir mais uma vez......Quero meus alunos voando e
felizes com todas as "ferramentas" e "brinquedos" que eu possa
ensinar.......
Claudia Maria Lindo...
Marcia Abreu Emocionante!
Fátima Alves Que tal colocar esta msg no blog Carla? Adorei!
Karen Patrícia Corrêa UMA
BOA IDÉIA...AFINAL FOI UMA INICIATIVA ESPONTÂNEA DE UMA ALUNA DO NONO
ANO, RECONHECENDO O PRINCIPAL OBJETIVO DA NOSSA ESCOLA.
Que todos nossos alunos realmente compreendam esta linda mensagem!!!!!!!!!!!!
Equipe Nelcy Noronha.
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